terça-feira, 29 de dezembro de 2009

As Melhores Fotografias de Viagem de 2009


(foto da galeria do vencedor do prêmio TPOTY 2009 - Akash - Bangladesh)

Esta semana a Cora Ronai postou no seu blog InternETC o link para o site da TPOTY (Travel Photo Of The Year). Que bela surpresa! Obrigada, Cora!


domingo, 27 de dezembro de 2009

FELIZ ANO NOVO



(Retrospectiva - Saul Steinberg - 1978)

Nesta época de fim de ano, costumamos pensar em listas de coisas a fazer no próximo ano, coisas que gostaríamos de ter feito no passado, coisas que vamos deixar de fazer, maus hábitos que vamos abandonar, etc. Como eu sei que essas idéias passam antes do Carnaval, tomo a liberdade de deixar aqui a minha lista de mandamentos atualizados para 2010, para guiar as boas intenções dos meus leitores:

1) Não fumarás
    (a menos de 100 m de distância de outro ser humano)
2) Beberás água acima de todos os outros líquidos
    (de preferência em recipiente reutilizável)
3) Não comerás bacon
    (e se comeres, diz que era tofu defumado)
4) Não chatearás o teu próximo
    (emitindo alguma opinião sobre qualquer assunto mais importante do que futebol)
5) Adorarás todas as criancinhas
    (mesmo que sejam malcriadas, te odeiem e chutem a tua canela)
6) Não trabalharás até mais tarde
    (embora precises parecer sempre ocupadíssimo, tens que adorar o lazer em família)
7) Farás exercício regularmente
    (ou pelo menos diz que não fazes por causa de um terrível problema na coluna)
8) Disfarçarás a idade a qualquer preço
    (embora a velhice seja a "melhor idade", cairás nos maiores ridículos para disfarçar a tua)
9) Não engordarás
    (e se isso acontecer, diz que é por causa da tireóide)
10) Não usarás sacolinhas de supermercado
      (este é muito importante, é assim que vamos salvar o planeta)

Brincadeiras à parte, desejo a todos um Feliz Ano Novo, e que realmente façamos alguma coisa para melhorar as nossas vidas, conviver melhor com o nosso próximo e deixar o planeta em que vivemos habitável para as próximas gerações.


(sem título - Saul Steinberg - 1962)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Feliz Natal


Tríptico de la Navidad - Mestre de Ávila - Sec. XV - Museu Lázaro Galdiano - Madrid


Desejo um Feliz Natal com muita Paz, Harmonia e Fé a todos os meus seguidores, leitores eventuais, e outros visitantes deste blog. Obrigada a todos pelo interesse e ótimos comentários.

sábado, 19 de dezembro de 2009

De Nice, com Amor



SALADA NIÇOISE 

Esta excelente salada é um prato típico da região de Nice, a linda cidade do Sul da França, localizada à beira do Mediterrâneo. Citando o meu amigo Jean-Luc (meu blogueiro favorito):
"Símbolo do Sul, do Mediterrâneo, da Provença, natureza morta explodindo em cores vivas, como as que tanto fascinaram Cézanne, Renoir, Bonnard, Matisse, que vieram pintar na Côte D'Azur, a salada niçoise é um prato completo, rico em vitaminas, que pode ser acompanhado por uma baguette crocante."


(Os Ingredientes - Imagem de http://www.whiskblog.com/)

Vamos à receita adaptada do livro "As melhores Receitas de Celidônio":

Ingredientes
1 pé de alface (de prefêrencia americana, que fica mais crocante em contato com os outros ingredientes)
2 tomates (ou 8-10 tomatinhos cereja)
1 cebola média (de preferência roxa, que fica mais bonita)
1 pimentão amarelo ou vermelho (ou metade de cada um)
3 batatas médias cozidas, descascadas e cortadas em rodelas de 1 cm de espessura
300g de vagem macarrão cozida e cortada em tiras de 3 cm
Pode levar pepino em rodelas finas (com a casca), cenoura ralada, beterraba ralada, ou outros vegetais)
50g de azeitonas verdes e 50g de azeitonas pretas sem caroço
2 latas de atum em conserva de azeite ou água, ou uma posta de atum fresco cozido em água e sal (só não vale atum em óleo não identificado)
2 ovos cozidos
4 filezinhos de anchova em azeite, ou um pouco de bottarga (opcionais)
1 colher de sobremesa de alcaparras
1 colher de sopa de cebolinha verde picada
1 dente de alho
vinagre de vinho branco, mostarda de Dijon, azeite, sal, pimenta do reino q.b.

Maneira de fazer
Lave e enxugue todos os ingredientes que vão ser consumidos crus. Cozinhe os ovos, as batatas, as vagens e o atum, se for usar o fresco. Corte os tomates em 8 pedaços e retire as sementes. Rasgue a alface. Corte o pimentão em tiras finas. Corte a cebola em rodelas finas e os ovos em 4 gomos.

Esfregue o dente de alho cortado ao meio no interior de uma saladeira grande de madeira ou vidro. Guarde o restante para outra preparação. Junte todos os ingredientes ou arrume da forma que a sua criatividade mandar. Eu gosto de guardar os ovos, algumas azeitonas pretas e tirinhas de pimentão para decorar por cima. Arrume também em cima os filezinhos de anchova ou polvilhe com a bottarga (caviar de ovas de tainha). Prepare um vinagrete com o azeite, vinagre, mostarda, cebolinha, sal, pimenta e alcaparras e tempere a salada, ou sirva numa molheira à parte.

Os "Niçois" (habitantes de Nice) fazem a salada somente com os vegetais crus, sem as batatas e as vagens e com alguns outros vegetais difíceis de encontrar no Brasil, acompanhada de baguette. Com a batata ou a baguette, esta salada é uma refeição completa.

Segue outra receita excelente da mesma região, também adaptada do livro do Celidônio:

PEIXE À MODA DE NICE

1/2 litro de molho de tomate
1 colher de sopa de raspa de limão ou tirinhas da casca (só a parte verde - a parte branca fica amarga)
8 azeitonas pretas descaroçadas e cortadas ao meio
orégano seco ou manjericão fresco, alho desidratado, louro, sal, pimenta do reino, etc.
4 filés de peixe (pode ser bacalhau fresco, tilápia, viola, ou outro peixe, desde que a carne seja firme)
salsa picada

Tempere ligeiramente o peixe com limão, alho, sal e pimenta do reino.
Numa frigideira grande com tampa ou num tacho (panela mais larga do que funda,) prepare o molho de tomate, ou ferva o comprado pronto com a folha de louro.
Se for fazer o molho de tomate pode usar a receita que eu postei em setembro: Ode ao Tomate)
Junte as raspas de limão e as azeitonas e ferva por mais 30 segundos. Coloque os filés de peixe na panela sobre o molho e cozinhe por alguns minutos tampado. Vire cuidadosamente o peixe, e cozinhe do outro lado. É muito rápido. Sirva imediatamente decorado com a salsinha, acompanhado de arroz branco ou batatas cozidas, ou mesmo uma bagette crocante e um bom vinho branco.



(foto do site http://www.metro.ca)

Dica: eu costumo usar alho desidratado nas receitas de cozimento muito rápido, porque fica menos indigesto do que com o alho cru.



A Cruzada de Luciano Pires


(auto-retrato de Luciano Pires)


Cartunista, escritor, empresário, comunicador, motivador: é difícil definir Luciano Pires. Os seus livros não podem ser considerados de auto-ajuda, embora possam inspirar muita gente a auto-ajudar-se a vencer a mediocridade que se instalou nas nossas vidas.

O seu humor não é tão sarcástico como o de Stanislau Ponte Preta, com a sua lendária série Febeapá (FEstival de BEsteiras que Assola o PAís), mas lendo os seus livros não dá para deixar de fazer a comparação. Os engraçadíssimos "Brasileiros Pocotó" e "Nóis que invertemo as coisa" são uma crítica ácida ao que ele chama de "Pocotização do Brasil".

Citando a minha amiga Mrs. C.:

Recentemente li o livro “O meu Everest” de Luciano Pires, que fala de desejos, motivação, metas, acertos, dificuldades e principalmente, sonhos. O cara tinha um sonho, chegar ao Campo Base do Everest, e conseguiu realizá-lo. Traçou os seus objetivos e metas, e correu atrás para que seu sonho se tornasse realidade, e principalmente, teve vontade. Com dificuldades, dores, alegrias, angústias, medos, sensação de realização, como na vida da gente. Ele chegou lá, e sabe por quê? Porque era o sonho dele e ele tinha vontade de fazer acontecer. Cada um de nós tem o seu Everest, em qualquer lugar, a qualquer tempo. O que importa é sonhar e saber realizar, ter vontade e seguir em frente.

Veja parte do artigo da Newsletter dele desta semana:

CÉREBROS ROÍDOS

Quando em 2001 decidi começar uma cruzada pessoal contra a miséria intelectual que assola o Brasil eu sabia que a briga seria dura, mas que valeria a pena. De lá para cá sabe o que aconteceu?

Tornei-me colunista de programas de rádio. Lancei meu livro Brasileiros Pocotó. Realizei minhas palestras centenas de vezes no Brasil e no exterior. Fiz eventos de lançamento de livros em várias universidades. Criei o programa de rádio Café Brasil que está em 27 rádios pelo país. Lancei seis Melôs que foram assistidas por centenas de milhares de pessoas no Youtube. Ampliei meu cadastro de "assinantes" do site para mais de 125 mil nomes. Viajei para o Aconcágua e o Pólo Norte. Lancei o podcast Café Brasil que já tem mais de 100 mil downloads/mês.

Tornei-me colunista de dezenas de jornais, revistas e sites. Lancei meu novo livro NÓIS. Ufa! Uma trabalheira danada que recebeu pouquíssima repercussão na grande mídia. O barulho todo veio pela internet.

Mas agora a coisa mudou! Fui entrevistado na televisão, para matéria que foi ao ar no Jornal da Cultura! Vieram me entrevistar em meu escritório! Um jornalista e dois técnicos! Vixe!

Quando ligaram interessados na entrevista, fiquei excitado! Será que finalmente eu poderia tratar de meu trabalho de combate ao emburrecimento nacional? Falar das implicações políticas de nossas decisões do dia a dia? Chamar a atenção para o vácuo de cidadania que vivenciamos neste início de século? Comentar sobre a queda de conteúdo no sistema educacional? Discorrer sobre as raízes da corrupção em nossos pequenos atos diários? Discursar sobre a necessidade de enriquecer nosso repertório para refinar nossa capacidade de tomada de decisão? Argumentar sobre a importância de não ser um bovino resignado que simplesmente destila ressentimentos passivos? Conclamar o telespectador a conectar-se a outras pessoas interessadas em melhorar o estado das coisas? Provocar a todos pedindo que resistissem caso percebessem que o Brasil está ficando burro?

Não.
...........

Leia o resto no site dele: http://www.lucianopires.com.br/



(o falso bandido - cartum de Luciano Pires)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Salvem as Bromélias!


(Imagem do Wikimedia Commons)

Hoje fui visitar o meu querido Jardim Botânico, que estava lindo neste fim de primavera, depois das chuvas da semana passada. Fui surpreendida por mais uma chuvarada e tive que compar uma capa na lojinha do Jardim. (Dica: eles vendem capas de chuva por R$6,00 - ótimas para evitar que a chuva estrague o passeio).

Aproveitei para visitar a exposição de bromélias, que acabou hoje, e conhecer um pouco mais sobre estas curiosas plantas:

Você sabia que a cor avermelhada da parte de baixo das folhas de muitas bromélias é uma adaptação à falta de luz nas florestas tropicais? As copas das árvores absorvem preferencialmente a luz verde, e a pouca luz que chega ao solo onde vivem essas bromélias é mais avermelhada, sendo então melhor absorvida pelas folhas de cor vermelha.

Os organizadores da exposição aproveitaram a ocasião para fazer um apelo contra a destruição das pobres bromélias por causa da dengue:

“Bromélias e Dengue”
Texto divulgado na exposição de bromélias do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Muito se falou e grandes excessos foram cometidos ao se associarem as bromélias à dengue. Em casos extremos, ocorreu o extermínio de bromélias em jardins e ambientes naturais, como se o mal estivesse nas plantas, e não no inseto.

Nunca foi comprovada a relação direta entre o Aedes aegypti e as bromélias, uma vez que estas são naturais das Américas e o Aedes aegypti é um inseto exótico, proveniente da África.

Sabemos que o Aedes aegypti se multiplica em locais com água parada. Entretanto, pesquisas desenvolvidas sobre a proliferação dele nas broméllias das coleções do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro revelaram um percentual muito pequeno de incidência de larvas desse mosquito.

O mosquito Aedes aegypti só utiliza a água das bromélias em raras ocasiões, geralmente quando há focos próximos ao seu cultivo. A água com sedimentos orgânicos ou com matéria em suspensão, como a encontrada em tanques de bromélias em condições naturais, é evitada palo mosquito, que tem preferência por recipientes artificiais e com água limpa, como garrafas, latas, vasos de plantas com pratos, pneus, etc. O importante é eliminar os nichos de reprodução próximos às bromélias.

Conclui-se que não é eliminando as bromélias que vamos erradicar o mosquito-vetor, e, sim, com uma vigilância permanente dos órgãos competentes e a contribuição da população, tomando cuidado em não deixar água acumulada em locais propícios à proliferação do Aedes aegypti.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Zuenir Ventura e a Maior Flor do Mundo


(pintura de 1913 - arquivo da Wikimedia Commons)

Na sua crônica deste sábado, o jornalista Zuenir Ventura fala sobre a florada de mais um grupo de palmeiras da espécie Corypha umbraculifera no aterro do Flamengo, aqui no Rio de Janeiro. É um espetáculo que demora 50 anos para acontecer. A planta, segundo ZV pesquisou "é a maior inflorescência do reino vegetal. De grande porte, chega a alcançar 20 metros de altura até o início da floração, quando entra em decadência, surgindo, porém, uma nova copa de 8 metros de diâmetro, constituída de mais de um milhão de pequenas flores brancas. Cumprida sua parte na tarefa de perpetuação da espécie, a palmeira finaliza o seu ciclo vital".
A última florada dessas palmeiras no Aterro, foi em 1998, próximo ao Monumento dos Pracinhas. O meu amigo Sr. R. na época chamou minha atenção para o fenômeno mas, assim como Burle Marx, que plantou as palmeiras, não viveu para ver o espetáculo da florada.
Se você mora no Rio de Janeiro, deixe aquela feiosa árvore comercial da Lagoa pra lá e vá ao Aterro observar esse lindo espetáculo natural. Aproveite o privilégio de morar na Cidade Maravilhosa! E se você for ao Aterro no domingo que vem, dia 13 de dezembro, aproveite também para se cadastrar como doador de medula óssea. Quem sabe você vai poder proporcionar a alguém a oportunidade de estar vivo e saudável para observar a  próxima florada das lindas Coryphas umbraculiferas! O Hemorio estará no local com sua unidade móvel para fazer a captação de doadores. Só não se esqueça levar um documento de identidade.

(as lindas palmeiras - foto da minha amiga Mme G.)

sábado, 28 de novembro de 2009

Bill Bryson e o Último Dodo


Alguns anos atrás passei por um "sebo" (loja de livros usados) e um livro chamado "Notes from a Small Island" (Crônicas de uma Pequena Ilha) chamou a minha atenção. O título era interessante, e o dono anterior, John Smith, tinha esquecido dentro dele um cartão de embarque para a cidade do México. Achei curioso e não resisti à tentação de comprar o livro, e tive o prazer de conhecer a prosa engraçada e inteligente de Bill Bryson. Depois procurei o autor na internet e descobri que ele é um dos escritores mais populares na Inglaterra, "mais popular até que os Beatles", o que deve ser um pouco de exagero. Bill Bryson escreveu vários relatos de viagens, e livros sobre curiosidades da língua inglesa, entre outros temas, todos escritos com humor e leveza. Bill consegue nos deixar com curiosidade de visitar lugares totalmente inssossos como Bristol, além de nos fazer dar boas risadas, o que por si só já vale a leitura.
Um dos melhores livros de Bill Bryson é A Short History of Nearly Everything "Uma Breve História de Quase tudo", que ganhou o prêmio de melhor livro de divulgação científica do ano de 2004, que trata desde temas como o Big Bang e as bactérias que habitam o nosso corpo, até a extinção dos pobres Dodos, aves "doudas"ou "doidas"que habitavam as ilha Mauricius até meados do séc XVIII.
O último especimen (empalhado) de dodo que restava no mundo, estava mofado e foi jogado desdenhosamento no fogo  pelo diretor do Museu de Oxford em que estava exposto. Essa foi a última das indignidades que essa espécie sofreu, depois de ser extinta pelos animais de estimação de marinheiros que passavam pelas ilhas. Os pobres dodos não tinham medo de seres humanos, eram naturalmente curiosos e não eram bons corredores, então quando descobriam o perigo já era tarde demais. Ah,  e eles nem sequer eram saborosos, coitadinhos.


(O que muitos ornitólogos não sabem, é que o Dodo na verdade era uma espécie muito avançada, que vivia pacificamente sozinha, até que no século XVII foi aniquilada pelo homem, ratazanas e cães. Como de hábito) 

domingo, 22 de novembro de 2009

Mais uma Campanha de Doação de Medula Óssea

















Para dar início às comemorações da Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) e a Fundação do Câncer promovem a 1ª Corrida e Caminhada Com você, pela vida – Doe medula óssea. O evento será no dia 13 de dezembro, às 8h30, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. A previsão é reunir 2.000 participantes.

O Hemorio estará no local com sua unidade móvel para fazer a captação de doadores. 

Mais informações nos sites:

Com Você, pela Vida
INCA - Doação de Medula Óssea

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Lagosta Elegante




A salada acima foi preparada pelos meus amigos Mr C. e Mr W., e enfeitada com flores de capuchinha - flores comestiveis que podem ser encontradas em algumas feiras livres do Rio de Janeiro. Como não tenho a receita, publico aqui uma outra, do livro O Cozinheiro dos Cozinheiros (1905):

Lagosta à Americana

Prólogo

Escolha uma lagosta airosa, das melhores,
Depois deite-lhe a mão à casca, com firmeza,
E se ela se puser a estrebuchar com dores,
É coração ao largo! Arme-se de destreza,
E em plena vida quanto a sinta a resfolegar
Zás! Retalhe sem dó o cardeal do mar.

Receita

Deite
Cada um por sua vez no azeite
Os pedaços ainda palpitantes,
Um tudo-nada de alho bem pisado,
Pimenta, sal, temperos abundantes,
Vinho branco bom e tomate;

Deixe
Que isso fique bem apurado
E que avive ainda o escarlate
Da linda túnica do peixe;

Mais ou menos para cozê-lo
Uns bons trinta minutos conto,
Um pouco de cayena e gelo
Para rematar bem e... pronto.

Molho de chorar por mais
Que as volúpias sensuais
Tantas nasçam dele e tanto
Que façam danar um santo!

Epílogo

Com este ideal e pérfido pitéu,
Capaz de dar espírito a um sandeu,
Não há beleza arisca, está provado,
Por mais forte que seja e resistente,
Que não sucumba fatalmente
Em gabinete reservado...

Charles de Monselet - versão de Jayme Victor

 

(Ilustração de Sir John Tenniel para "Alice no País das Maravilhas")


terça-feira, 17 de novembro de 2009

Por Que Eu Odeio Gatos



(tradução: eles nunca parecem contentes; as garras deles são horríveis; eles nunca vão salvar você; não fazem gracinhas; deixam a sua casa fedendo muito; não querem brincar com você; matam bebês; são molengões)

Mentira! Na verdade eu sou uma ailurófila apaixonada. Convivo com dois gatinhos, Sr. B. e Sr. F., que raramente querem brincar comigo, mas são muito meigos e bonzinhos. Mas não resisti ao traço aparentemente simples e ao humor de Natalie Dee, uma excelente cartunista que eu encontrei numa das minhas randonées pelo cyberespaço.

(eu odeio você)

 

Na mesma veia de humor anti-gato, o site My Cat Hates You também merece uma visita. Tudo começou com um site onde as pessoas postavam fotografias dos seus gatos em poses nada fofas, mostrando os dentes, garras, fazendo malcriação, dormindo em lugares impróprios, etc. O site tornou-se popular, e rendeu pelo menos um livro, já traduzido para português:


(capa do livro de Jim Edgar)



sábado, 14 de novembro de 2009

A Arte de Caroline Alexander e a Lei da Mamografia

Acabei de ler o excelente livro "The Bounty: The True Story of the Mutiny on the Bounty" (O Bounty: A Verdadeira História do Motim no Bounty) por Caroline Alexander (não confundir com a campeã olímpica de ciclismo). Caroline Alexander escreve no National Geographic, New York Times e outras publicações prestigiosas. A característica mais marcante da sua prosa é reescrever a história a partir de fontes primárias, tentando chegar o mais próximo possível da verdada através das versões dos diversos personagens envolvidos.

Ela escreveu vários livros de divulgação de História, entre eles o divertido relato do gatinho do Endurance, de que eu falei no post de 20 de setembro. Alguns foram traduzidos para Português.

Enquanto eu lia o livro e refletia sobre como uma mesma história, vivida por diversas testemunhas e amplamente relatada e discutida na sua época, pode ser interpretada de diversas formas, tomei conhecimento da existência da Lei Federal 11.664/2008, que faculta a todas as mulheres brasileiras de 40 a 49 anos o direito de fazer mamografias gratuitamente pelo SUS. Essa lei tem sido interpretada erroneamente de várias formas e tem gerado bastante confusão. O INCA divulgou uma nota esclarecedora, leia no link abaixo para se informar, porque você ainda pode se tornar vítima de interpretações equivocadas dessa lei:



(quadro de autor desconhecido - Séc. XVI - Louvre)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Azeitonas Opiparamente Temperadas


Ingredientes
200g de azeitonas Pretas
1 pitada de sal
1 fio de azeite
1 pitada de pimenta do reino
1 pitada de pimenta calabresa
1 pitada de orégano ou mistura portuguesa (veja o "post" de 12 de setembro)
1 dente de alho picado bem fino, ou o equivalente em alho desidratado
1 pouco de lasquinhas de casca de limão cortadas com uma faca bem afiada, sem a parte branca

Escorra o líquido e lave as azeitonas. Coloque todos os temperos, junto com as azeitonas, num frasco de vidro grande com tampa. Sacuda bem o vidro para misturar bem os temperos. Se precisar, coloque mais um pouco de azeite para espalhar melhor.
Se não gostar de pimenta, pode fazer sem ela, o toque especial desta receita é a casca de limão e os outros temperos. O sal é imprescindível, mesmo que as azeitonas estejam salgadas por dentro, para deixar uns grãozinhos na superfície, agarrados no azeite. Pode ser só uma pitadinha mesmo.


Azeitonas temperadas à moda do Velho Abreu  conforme receita da Abuelita


domingo, 8 de novembro de 2009

A Insustentável Leveza do Peixe

ou O Peixe Assado da Minha Mãe

Vá à feira ou mercado de peixe mais próximo e peça um peixe bom para assar, com pelo menos 1,2 kg. Só não pergunte ao vendedor "Esse peixe tem espiiiinhas???", porque ele provavelmente vai responder "Não, esse é invertebrado" e impingir-lhe uma corvina podre.
Escolhido o peixe, que pode ser um pargo, cherne, vermelho ou outro recomendado pelo seu vendedor de confiança, peça para preparar para assar, o que significa retirar as vísceras e escamas deixando o peixe inteiro e com a pele.

Lave bem o peixe e verifique se ele foi bem limpo, tempere com sal e limão, e coloque numa assadeira (de cerâmica ou vidro, que possa ir ao forno e à mesa) untada com um pouco de margarina. Recheie a barriga do peixe com pedaços de cebola, uns dois dentes de alho cortados em pedaços, um ramo de alecrim, um de salsa e um de cebolinha, ou outros da sua preferência. Espalhe algumas rodelas de cebola por cima do peixe, polvilhe com colorau, um fio de azeite e mais um pouco de sal (para temperar as cebolas), e leve ao forno médio. Prepare um molho para regar o peixe com 1 parte de vinho branco para duas de água, e um pouco de sal. Se não tiver vinho pode usar um jato de vinagre ou um pouco de suco de limão, diluidos em água e sal. Use esse molho para manter o fundo da assadeira molhado, sem queimar.
Em paralelo, cozinhe algumas batatas inteiras em água e sal, retire a casca e corte em rodelas de 1cm de espessura. Quando o peixe estiver quase pronto, disponha as batatas em volta dele na assadeira e deixe mais uns 10 minutos no forno. Acompanhe com arroz de amêndoas e passas, salada, ou verduras cozidas.
Este prato fica muito leve, tenha um plano B, porque poucas horas depois a fome volta!

sábado, 7 de novembro de 2009

Uma ideia leva a outra que leva a outra que leva a outra...


Ao vasculhar mais um expositor da editora gaúcha L&PM, que publica ótimos livros de bolso, nacionais ou estrangeiros em traduções primorosas, deparei-me com um exemplar de "Max e os Felinos", de Moacyr Scliar. Esse livro, já consagrado pelos fãs desse médico e escritor gaúcho, e traduzido para vária línguas, ganhou mais notoriedade depois do escritor canadense Yann Martel ganhar o prêmio Booker em 2002, com o livro "A Vida de Pi", que se inspirou na ideia central do livro de Scliar. Ambos partem de uma viagem solitária de um náufrago com um grande felino: um jaguar, no livro brasileiro e um tigre no livro canadense. Ambos têm grandes passagens sobre o medo e a solidão, embora o desenrolar das histórias seja bastante diferente.
Yann Martel reconhece que se inspirou na ideia de Scliar para escrever o seu livro, embora tenha lido apenas uma resenha, e é interessante ler os dois livros e observar a similaridade dos relatos imaginados pelos dois autores sobre os longos dias passados pelos seus protagonistas na companhia das respectivos feras.



Moacyr Scliar escreveu uma instigante discussão sobre o plágio na introdução à edição de bolso da L&PM do seu livro. Leia mais sobre os dois livros no arquivo do Estadão:

domingo, 1 de novembro de 2009

Confesso que sou uma Chata


Na semana passada a crônica da Martha Medeiros falava sobre os chatos. Li a crônica e me enquadrei em todas as categorias, parecia que ela estava falando de mim. Para ler a crônica na íntegra, acesse o link do Jornal de Santa Catarina:
http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,1147,2694128,13382

Leia a crônica e marque abaixo os itens em que você se enquadra. Se achar isso mais uma das minhas chatices, feche esta página e vá abraçar uma árvore, fritar um ovo, andar de bicicleta, sei lá...

O Chato...
( ) Ama demais
( ) É infantil demais
( ) Leva muito tempo para contar algo que lhe aconteceu
( ) Fica horas no telefone
( ) Leva-se a sério além do razoável
( ) Ocupa o tempo dos outros com histórias que não são interessantes
( ) Pergunta: lembra-se de mim?
( ) Começa frases com "adivinha"
( ) Conta sonhos
( ) Estiiiiica as letras das palavras e escreve (rsrsrsrs) no final das frases

Eu tirei nota 10, e você? (rsrsrsrs)

domingo, 25 de outubro de 2009

Homenagem aos Taxistas do Rio de Janeiro


Em setembro de 1914 o governador de Paris convocou 600 taxis para levar soldados, já exaustos de outras batalhas, como reforços para enfrentar as tropas alemãs que se encontravam a poucas dezenas de quilômetros de Paris. Os taxistas de Paris eram todos idosos e aposentados, porque os mais novos já haviam sido convocados para lutar na guerra, mas todos obedeceram à convocação do general, enfrentando as duras condições da estrada, durante a noite, com as luzes apagadas, e o frio, fome e sede nos seus Renault modelo AG, que depois ficaram conhecidos como Taxis do Marne. A operação pode não ter sido decisiva para a vitória sobre os alemães, porque o número de soldados assim transportados foi pequeno, mas certamente contribuiu muito para levantar o moral dos franceses e seus aliados. Hoje em dia há placas em homenagem aos taxistas do Marne no local da batalha e na praça dos Inválidos em Paris, onde os taxistas se reuniram antes de começar a jornada, e ainda restam 3 dos táxis originais em museus na França e nos Estados Unidos. O Episódio foi narrado com precisão histórica e humor por Philippe Bernert em um dos capítulos do livro "La France de la Madelon" de Gilbert Guilleminault.

Resolvi contar esta história como forma de homenagear os nossos valorosos taxistas, que em meio ao caos em que vivemos aqui na linda cidade do Rio de Janeiro, nos ajudam cotidianamente a enfrentar os nossos pequenos dramas. Várias vezes usei táxis como ambulância, e todos sabemos de histórias de verdadeiro heroísmo que eles às vezes protagonizam, como a que aconteceu na semana passada, em que um deles ajudou suas passageiras a protegerem-se de um tiroteio, e ainda voltou depois para levá-las em segurança ao seu destino. Vivam os taxistas!


(foto tirada do Correio Catarinense)

domingo, 18 de outubro de 2009

The Family of Man


The Family of Man (A Família do Homem) foi uma exposição de fotografias montada por Edward J. Steichen em 1955 para o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Ao mesmo tempo que oferecia uma infinita diversidade de imagens de seres humanos dos anos 50, enfatizava que todos pertencem a uma mesma grande família. Os 32 temas, ordenados cronologicamente, refletiam as alegrias e tristezas das pessoas, a suas insatisfações e infelicidades, a sua aspiração por paz, mas também a realidade sangrenta da guerra. Enfatizava também o papel da democracia e, na conclusão da exposição, o papel das Nações Unidas como a única instituição capaz de salvar o mundo da "devastação da guerra, que trouxe duas vezes (na primeira metade do século XX)  indescritível sofrimento à humanidade, e reafirma a fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e valor do ser humano, nos direitos iguais dos homens e mulheres, e das pequenas e grandes nações" (Carta das Nações Unidas).


Vista como "o maior empreendimento fotográfico já realizado", a exposição consistiu em 503 fotografias tiradas por 273 fotógrafos, profissionais e amadores, conhecidos e anônimos, de 68 países. Um empreendimento enorme, de dimensões culturais e artísticas únicas, teve considerável influência sobre outras exposições, despertou o interesse do público na fotografia e a sua tremenda capacidade de comunicação, e passou uma mensagem pessoal, humanista, corajosa e provocadora.


Embora "A Família do Homem" tenha se tornado uma lenda na história da fotografia, foi muito além do que uma exposição pode ser. Pode ser vista como a memória de uma época inteira, da Guerra Fria e do Macartismo, na qual as esperanças e aspirações de milhões de homens e mulheres eram centradas na paz.
O empreendimento de Steichen ainda é único. Várias exposições de fotografias foram de uma forma ou de outra inspiradas nele, como A Família das Crianças e a Família da Mulher, de Jerry Mansom e a Primeira Exposição Mundial de Fotografia, organizada por Karl Pawek nos anos 60 para a revista Stern, mas nenhuma delas igualou a dimensão visual ou a coerência artística da exposição original.
A abordagem pessoal de Steichen desperta interesse e desafia a curiosidade até hoje: houve uma nova onda de interesse na exposição depois da inauguração do Museu de Clervaux. Desde junho de 1994 o museu já recebeu mais de 163.000 visitantes do mundo todo, sem contar com os 50.000 que foram ver a coleção restaurada em Toulouse, Tokio e Hiroshima em 1992 e no inverno de 1993, 38 anos depois da primeira tournée. Essa foi a última viagem ao redor do mundo da exposição, antes de ser permanentemente instalada no museu.


Traduzido do Portal da UNESCO:   http://portal.unesco.org/ . A UNESCO declarou esta exposição "Memória da Humanidade" em 2003. A exposição encontra-se hoje em dia no museu "The Family of Man" em Clervaux, Luxemburgo, e pode ser visitada virtualmente através do link: http://www.family-of-man.public.lu/visite-virtuelle/index.html

sábado, 17 de outubro de 2009

Frango Auto-Desossado

1 frango inteiro
1 saco (800g) de cebolas pequenas
1 colher (sobremesa) de sal
1 colher (sobremesa) de açúcar
Recheie o frango com as cebolas o sal e o açúcar. Costure todas as aberturas da pele do frango.

Tempere com um pouco de sal e vinagre por fora e coloque um pouco de margarina no fundo da assadeira e em cima do frango para o papel alumínio não grudar. Leve ao forno coberto com papel alumínio por cerca de 30 minutos, retire o papel e deixe até a carne estar bem macia. Retire o frango do molho e sirva assim mesmo, ou retire os ossos e a pele e misture a carne e as cebolas com arroz branco fazendo um risoto. O molho só presta se for desengordurado, porque por esse processo o frango sua toda a gordura. Esta receita ganhou o prêmio de receitas do Apicius, no JB, alguns anos atrás.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Caldeirada do Gama

Uma receita de que o nosso pai sempre falou e fez, ou melhor, comandou a fazedura, algumas vezes ao longo da nossa vida, foi a caldeirada como é preparada nos barcos dos pescadores portugueses. Um detalhe interessante é que o meu irmão B e eu fazemos versões um pouco diferentes do mesmo prato, mesmo tendo aprendido juntos. Qual é a mais portuguesa? Qual é a verdadeira? A resposta jaz no mar profundo, por onde nunca veio gente humana, como diria Camões.


Caldeirada Portuguesa da Filipa
- 1 kg de batatas descascadas e cortadas em rodelas grossas;
- 1 kg de peixe (de preferência peixe reimoso, ou seja gorduroso e de sabor forte)
- 1/2 kg de cebolas cortadas em cubos
- 1/2 kg de tomates cortados em gomos
- 3 dentes de alho cortados em rodelas
- ramos de salsa e de cebolinha
- Sal, pimenta do reino, azeite

Cobrir o fundo de uma panela* com azeite e dispor camadas alternadas de cebola e alho, peixe, tomate, batatas até acabarem todos os ingredientes. À medida em que for empilhando as camadas, temperar de sal e pimenta. Pelo meio junte o cheiro verde, amarrado com um nó. Regue com mais um fio de azeite e feche a panela. Leve ao fogo médio até as batatas ficarem macias, sem nunca mexer, somente sacudindo a panela de vez em quando. Não leva nenhum líquido, os legumes e o peixe soltam a própria água. Não precisa de nenhum acompanhamento, já é um prato completo.
*panela em Portugal é sempre mais alta do que larga, se não chama-se tacho.

Caldeirada Portuguesa do B
- 1 kg de peixe (viola)
- 1 kg de camarão
- 1 kg de lulas
- 1 kg de mexilhão
- 1 kg tomate
- 1 kg de cebola
- azeite, sal, pimenta do reino, cheiro verde, caril, orégano, limão
- Pão italiano ou outro pão consistente

Tempere o peixe e os frutos do mar com limão, sal, alho e pimenta do reino; cubra o fundo da panela com azeite e disponha as camadas de cebola, tomate e peixe alternadamente; junte o cheiro verde amarrado com um nó pelo meio das camadas; cozinhe tudo em fogo alto, até o tomate estar bem cozido. Corrija o tempero, e junte os camarões e lulas rapidamente, deixando ferver só até mudarem de cor. Sirva sobre fatias grossas de pão.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Agatha Christie e as Recordações


Sempre admirei a capacidade que algumas pessoas têm de ler e selecionar citações para dividir com os amigos. Eu adorei esta, que a minha amiga Mme I encontrou na autobiografia da Agatha Christie:

"Para mim a vida parece consistir em três partes: o atarefado e normalmente agradável presente, que corre de minuto em minuto a uma velocidade fatal; o futuro, vago e incerto, para o qual podemos fazer alguns planos interessantes, quanto mais loucos e improváveis melhor, já que, como nada vai se passar como esperamos, podemos divertir-nos à vontade planejando; e, em terceiro lugar, o passado, as recordações e realidades que são o substrato da nossa vida presente, trazidos de volta de repente por um aroma, o formato de um morro, uma antiga canção - uma banalidade qualquer que nos faz dizer de repente "isso lembra-me..." com um estranho e inexplicável prazer. Essa é uma das compensações que a idade nos traz, e certamente uma das mais agradáveis: recordar".

Ler a autobiografia de Agatha Christie também foi, para mim, um estranho e inexplicável prazer. Recomendo!

sábado, 3 de outubro de 2009

Orlando e a Tecnologia



"A própria tessitura da vida, ela pensou enquanto subia, agora é mágica. No século XVIII nós sabíamos como tudo funcionava; mas aqui eu subo pelo ar; eu ouço vozes na América; eu vejo homens voando - mas como isso é feito eu não consigo nem começar a imaginar. Então a minha crença em mágica voltou..."
                                                         Virginia Woolf em "Orlando"

Através da sua personagem, Orlando, que viveu através dos séculos, testemunhando mais ou menos a mesma quantidade de inovações tecnológicas que cada um de  nós presencia em poucos anos, Virgínia Woolf expressa a sua perplexidade diante de uma coisa simples como um elevador. Sempre me incomodou usar coisas que eu não entendo completamente como funcionam, mesmo depois de ter estudado tanta física na  universidade. Um dia desses esse incômodo que eu sempre tive foi atiçado por um artigo de Juliana Carpanez (do G1), "Mitos e verdades sobre baterias de notebooks e celulares". Parece que não somos só Orlando e eu que temos essa perplexidade diante da tecnologia, muita gente tem muitas dúvidas sobre o funcionamento das coisas, criando assim esses mitos. Seguem abaixo alguns exemplos:

- Toda bateria deve ter sua carga usada até o final para, então, ser recarregada: MITO

- Se a bateria for carregada antes de chegar ao fim, sofrerá o efeito memória: precisará de mais carga antes mesmo que a energia armazenada chegue ao fim: MITO

- Nunca posso parar de carregar um eletrônico antes de a carga chegar a 100%:VERDADE

- A bateria do notebook não pode ser guardada completamente sem carga: VERDADE

- O ideal é que o eletrônico seja carregado quando está desligado: MITO

Vale a pena ler o artigo todo, no link:

http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1312410-6174,00.html

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Inglês Bem Temperado


Uma marca carioca de temperos deve ter contratado um poeta para traduzir os nomes dos seus produtos, talvez com intenção de exportar para algum lugar remoto, onde as pessoas se alimentam de sonhos. Seguem alguns exemplos:

Pimenta do Reino em Grão: Pepper of the Sacred Kingdom (pimenta do reino sagrado)
Louro em Pó: Blond Dust (poeira de louro)
Erva-Doce: Grass Candy (doce de grama)
Tempero Misto: Mixed Temper (temperamento misturado)
Ervas-Finas: Fine Grass (capim fino)

Parece tirado de um conto de fadas: Era uma vez uma princesa muito triste que montou o seu cavalo alado para ir ao Reino Sagrado espalhar as cinzas do seu príncipe louro. Ao chegar lá, viu um campo coberto por um capim muito fino. Ao prová-lo, o seu cavalo ficou enfeitiçado, porque na verdade a erva era mágica, muito doce. A princesa seguiu a pé, levando consigo a urna com as cinzas do seu príncipe louro, até chegar num palácio habitado por um monstro de temperamento muito misturado: às vezes ronronava como um gatinho, às vezes tornava-se ameaçador como um escorpião.... e por aí vai.

Ainda vou inventar um prato usando todos estes temperos. Vai ficar especial.

domingo, 20 de setembro de 2009

Mrs. Chippy, o gatinho do Endurance

Seguindo a tradição do Gato Mürr de E.T.A. Hoffman, que escreveu as suas memórias no verso das memórias do seu dono, e do cocker spaniel Flush de Virginia Woolf, que narrou a atribulada vida da poetisa Elizabeth Browning no seu diário, a jornalista Caroline Alexander escreveu a saga da malfadada expedição liderada por Shackleton à Antartida em 1914, vista pelos olhos do gato do carpinteiro do barco, Mrs. Chippy. O gatinho tinha por obrigação caçar todos os ratos que ameaçavam a expedição do 'Endurance', fazer rondas, inspecionar as experiências do biólogo de bordo, observar a natureza, praticar equilibrismo na amurada mesmo nas piores condições de mar, tendo chegado a cair e ficar 10 minutos na água gelada, o que seria mais do suficiente para matar qualquer ser humano. Outra das suas atividades era passear em cima das gaiolas onde eram mantidos os cachorros, o que muito os enfurecia.
O Endurance acabou ficando meses e meses entalado no gelo, até que todos os humanos foram obrigados a abandoná-lo, sacrificando antes o gatinho e os outros animais. Shackleton conseguiu, com muita dificuldade, conduzir a retirada de todos os membros da tripulação, sem perder nenhuma vida humana, o que é considerado um grande exemplo de liderança, menos pelo carpinteiro, Henry McNeish, que nunca o perdoou pela perda do heróico gatinho, que nunca deixou de cumprir as suas obrigações, mesmo nas condições mais adversas.

O nome do livro é "Mrs. Chippy's Last Expedition", e acho que não existe tradução para português.

sábado, 19 de setembro de 2009

Doação de Medula

Um dia destes coincidiu conversar com uma tia minha sobre o caso de uma menina portuguesa, a Martinha, que se curou de leucemia, e acontecer no centro da cidade do Rio de Janeiro uma campanha para cadastrar doadores voluntários de medula óssea. Infelizmente não pude me cadastrar, espero vencer a inércia e ir ao INCA em breve fazer isso. O cadastramento é simples, basta doar uma amostra de 5ml de sangue e preencher uma ficha, veja as informações no site do INCA:

http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=64

A Martinha está curada, graças a um doador, ao trabalho dos médicos e outros profissionais de saúde, apoio da família e orações de amigos e de milhares de pessoas que acompanharam o seu drama através do blog, mas nem todos os casos têm o mesmo final feliz.

O Transplante de Medula Óssea é a única esperança de cura para muitos portadores de leucemias e outras doenças do sangue

Sobre o Guisado Particularíssimo


Quem acha inútil a publicação de receitas antigas e impossíveis de reproduzir, deve ler a linda crônica de Cecília Meirelles "A Gula Bem Temperada", na qual ela fala sobre a receita do guisado particularíssimo, entre outras. A crônica pode ser encontrada no site abaixo:


O crítico gastronômico Apicius (Roberto Marinho de Azevedo), que manteve uma coluna chamada "À Mesa, como Convém" durante muitos anos no JB, também publicou a receita do particularíssimo guisado, que lhe foi enviada pela minha mãe, por ocasião de um concurso de receitas que ele organizou. A receita foi considerada "hors-concours", por ser impossível de executar, mas rendeu uma ótima crônica. A receita que ganhou o concurso, curiosamente, foi de um frango recheado com cebolas, auto-desossado, que eu faço até hoje. Quando fizer novamente prometo que publico aqui no blog.



domingo, 13 de setembro de 2009

Guisado Particularíssimo

Esta receita é do livro "O Cozinheiro dos Cozinheiros", de 1780, edição de 1905:

Recheie-se uma boa azeitona com alcaparras e anchovas picadas, deite-se em adubo de azeite e meta-se dentro de um papafigo ou de qualquer outro passarinho, cuja delicadeza seja conhecida, e este ambeba-se n'outro pássaro maior, v.g. num cencramo. Tome-se logo uma cotovia, à qual se tirarão os pés e a cabeça, para servirem de coberta aos outros pássaros. Envolva-se a cotovia numa lasca de toucinho delgadíssima e meta-se dentro de um tordo vazio do mesmo modo. Este entre no ventre de um pardal, este numa codorniz, esta numa ave fria, esta num perdigão, este numa galinhola, esta numa cerceta, a qual entrará numa pintada, esta num pato, este num faisão, o qual se cobrirá com um ganso; tudo isto entrará num pavão, o qual se cobrirá com uma betarda; e se nela, por acaso, ficar algum vazio, recheie-se com cogumelos, castanhas ou trufas. Meta-se tudo isto numa caçarola de sufifiente capacidade com cebilinhas picadas, cenouras, presunto picado, cravo da Índia, um molho de aipo, pimenta esmagada, algumas lascas de toucinho, espécies e uma ou duas cabeças de alho.
Coza-se este todo a fogo contínuo por espaço de vinte e quatro horas, ou melhor, num forno algum tanto quente, desengordure-se e sirva-se num prato.
Prescindindo de uma complicação como esta, poderá variar-se este guisado infinitamente, segundo os sítios ou estações.

Aparentemente esta forma de rechear um animal com outro era comum em grandes ocasiões. Isabel Allende descreve um porco recheado que foi oferecido pelos eleitores ao seu candidato, no seu romance A Casa dos Espíritos: estava sobre uma grande bandeja de madeira, perfumado e brilhante, com uma salsa no focinho e uma cenoura no rabo, repousando sobre um leito de tomates. Tinha uma enorme costura na barriga e dentro estava recheado de perdizes, que por sua vez estavam recheadas de ameixas.

sábado, 12 de setembro de 2009

Mistura Portuguesa

Comprei uma mistura de temperos numa feira de produtos orgânicos na linda cidade de Óbidos, em Portugal. É composta de alecrim, louro, sálvia, segurelha e tomilho e indicada na embalagem para "guisados e estufados de seitan", carnes e pratos de feijão ou lentilhas. Descobri que também fica muito bom em saladas de tomate, saladas verdes, frango assado, legumes grelhados.
Hoje tentei reproduzir a mistura, mas não consegui chegar nem perto do original.
Acho que tenho que voltar a Óbidos...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Arte de Cozinha

Uma receita light extraída do livro A Arte de Cozinha (Domingos Rodrigues - 1765)



Cabeça de Vitela
Cortada pela junta do pescoço a cabeça da vitela, se pelará como quem pela um leitão, e enquanto se não cozer, se porá em água fria, logo lhe apertarão a tromba com um cordel de maneira que lhe fique a ponta da língua de fora, e pondo-a a cozer em uma tigela nova, lhe deitarão toucinho em dados, pimenta inteira e algum gengibre; como estiver cozida, lhe tirarão o queixo de baixo; e quando se quiser por no prato, lhe abrirão o de cima com uma faca junto aos miolos, para que lhe entre dentro o vinagre e pimenta pisada, que também se há de deitar por cima de toda a cabeça, deitando-se primeiro o vinagre, para que fique a pimenta pegada; desse modo se mandará à mesa, com salsa em rama por cima.


Quem tiver coragem de fazer esta receita, por favor, tire uma foto e me mande....