sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Inglês Bem Temperado


Uma marca carioca de temperos deve ter contratado um poeta para traduzir os nomes dos seus produtos, talvez com intenção de exportar para algum lugar remoto, onde as pessoas se alimentam de sonhos. Seguem alguns exemplos:

Pimenta do Reino em Grão: Pepper of the Sacred Kingdom (pimenta do reino sagrado)
Louro em Pó: Blond Dust (poeira de louro)
Erva-Doce: Grass Candy (doce de grama)
Tempero Misto: Mixed Temper (temperamento misturado)
Ervas-Finas: Fine Grass (capim fino)

Parece tirado de um conto de fadas: Era uma vez uma princesa muito triste que montou o seu cavalo alado para ir ao Reino Sagrado espalhar as cinzas do seu príncipe louro. Ao chegar lá, viu um campo coberto por um capim muito fino. Ao prová-lo, o seu cavalo ficou enfeitiçado, porque na verdade a erva era mágica, muito doce. A princesa seguiu a pé, levando consigo a urna com as cinzas do seu príncipe louro, até chegar num palácio habitado por um monstro de temperamento muito misturado: às vezes ronronava como um gatinho, às vezes tornava-se ameaçador como um escorpião.... e por aí vai.

Ainda vou inventar um prato usando todos estes temperos. Vai ficar especial.

domingo, 20 de setembro de 2009

Mrs. Chippy, o gatinho do Endurance

Seguindo a tradição do Gato Mürr de E.T.A. Hoffman, que escreveu as suas memórias no verso das memórias do seu dono, e do cocker spaniel Flush de Virginia Woolf, que narrou a atribulada vida da poetisa Elizabeth Browning no seu diário, a jornalista Caroline Alexander escreveu a saga da malfadada expedição liderada por Shackleton à Antartida em 1914, vista pelos olhos do gato do carpinteiro do barco, Mrs. Chippy. O gatinho tinha por obrigação caçar todos os ratos que ameaçavam a expedição do 'Endurance', fazer rondas, inspecionar as experiências do biólogo de bordo, observar a natureza, praticar equilibrismo na amurada mesmo nas piores condições de mar, tendo chegado a cair e ficar 10 minutos na água gelada, o que seria mais do suficiente para matar qualquer ser humano. Outra das suas atividades era passear em cima das gaiolas onde eram mantidos os cachorros, o que muito os enfurecia.
O Endurance acabou ficando meses e meses entalado no gelo, até que todos os humanos foram obrigados a abandoná-lo, sacrificando antes o gatinho e os outros animais. Shackleton conseguiu, com muita dificuldade, conduzir a retirada de todos os membros da tripulação, sem perder nenhuma vida humana, o que é considerado um grande exemplo de liderança, menos pelo carpinteiro, Henry McNeish, que nunca o perdoou pela perda do heróico gatinho, que nunca deixou de cumprir as suas obrigações, mesmo nas condições mais adversas.

O nome do livro é "Mrs. Chippy's Last Expedition", e acho que não existe tradução para português.

sábado, 19 de setembro de 2009

Doação de Medula

Um dia destes coincidiu conversar com uma tia minha sobre o caso de uma menina portuguesa, a Martinha, que se curou de leucemia, e acontecer no centro da cidade do Rio de Janeiro uma campanha para cadastrar doadores voluntários de medula óssea. Infelizmente não pude me cadastrar, espero vencer a inércia e ir ao INCA em breve fazer isso. O cadastramento é simples, basta doar uma amostra de 5ml de sangue e preencher uma ficha, veja as informações no site do INCA:

http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=64

A Martinha está curada, graças a um doador, ao trabalho dos médicos e outros profissionais de saúde, apoio da família e orações de amigos e de milhares de pessoas que acompanharam o seu drama através do blog, mas nem todos os casos têm o mesmo final feliz.

O Transplante de Medula Óssea é a única esperança de cura para muitos portadores de leucemias e outras doenças do sangue

Sobre o Guisado Particularíssimo


Quem acha inútil a publicação de receitas antigas e impossíveis de reproduzir, deve ler a linda crônica de Cecília Meirelles "A Gula Bem Temperada", na qual ela fala sobre a receita do guisado particularíssimo, entre outras. A crônica pode ser encontrada no site abaixo:


O crítico gastronômico Apicius (Roberto Marinho de Azevedo), que manteve uma coluna chamada "À Mesa, como Convém" durante muitos anos no JB, também publicou a receita do particularíssimo guisado, que lhe foi enviada pela minha mãe, por ocasião de um concurso de receitas que ele organizou. A receita foi considerada "hors-concours", por ser impossível de executar, mas rendeu uma ótima crônica. A receita que ganhou o concurso, curiosamente, foi de um frango recheado com cebolas, auto-desossado, que eu faço até hoje. Quando fizer novamente prometo que publico aqui no blog.



domingo, 13 de setembro de 2009

Guisado Particularíssimo

Esta receita é do livro "O Cozinheiro dos Cozinheiros", de 1780, edição de 1905:

Recheie-se uma boa azeitona com alcaparras e anchovas picadas, deite-se em adubo de azeite e meta-se dentro de um papafigo ou de qualquer outro passarinho, cuja delicadeza seja conhecida, e este ambeba-se n'outro pássaro maior, v.g. num cencramo. Tome-se logo uma cotovia, à qual se tirarão os pés e a cabeça, para servirem de coberta aos outros pássaros. Envolva-se a cotovia numa lasca de toucinho delgadíssima e meta-se dentro de um tordo vazio do mesmo modo. Este entre no ventre de um pardal, este numa codorniz, esta numa ave fria, esta num perdigão, este numa galinhola, esta numa cerceta, a qual entrará numa pintada, esta num pato, este num faisão, o qual se cobrirá com um ganso; tudo isto entrará num pavão, o qual se cobrirá com uma betarda; e se nela, por acaso, ficar algum vazio, recheie-se com cogumelos, castanhas ou trufas. Meta-se tudo isto numa caçarola de sufifiente capacidade com cebilinhas picadas, cenouras, presunto picado, cravo da Índia, um molho de aipo, pimenta esmagada, algumas lascas de toucinho, espécies e uma ou duas cabeças de alho.
Coza-se este todo a fogo contínuo por espaço de vinte e quatro horas, ou melhor, num forno algum tanto quente, desengordure-se e sirva-se num prato.
Prescindindo de uma complicação como esta, poderá variar-se este guisado infinitamente, segundo os sítios ou estações.

Aparentemente esta forma de rechear um animal com outro era comum em grandes ocasiões. Isabel Allende descreve um porco recheado que foi oferecido pelos eleitores ao seu candidato, no seu romance A Casa dos Espíritos: estava sobre uma grande bandeja de madeira, perfumado e brilhante, com uma salsa no focinho e uma cenoura no rabo, repousando sobre um leito de tomates. Tinha uma enorme costura na barriga e dentro estava recheado de perdizes, que por sua vez estavam recheadas de ameixas.

sábado, 12 de setembro de 2009

Mistura Portuguesa

Comprei uma mistura de temperos numa feira de produtos orgânicos na linda cidade de Óbidos, em Portugal. É composta de alecrim, louro, sálvia, segurelha e tomilho e indicada na embalagem para "guisados e estufados de seitan", carnes e pratos de feijão ou lentilhas. Descobri que também fica muito bom em saladas de tomate, saladas verdes, frango assado, legumes grelhados.
Hoje tentei reproduzir a mistura, mas não consegui chegar nem perto do original.
Acho que tenho que voltar a Óbidos...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Arte de Cozinha

Uma receita light extraída do livro A Arte de Cozinha (Domingos Rodrigues - 1765)



Cabeça de Vitela
Cortada pela junta do pescoço a cabeça da vitela, se pelará como quem pela um leitão, e enquanto se não cozer, se porá em água fria, logo lhe apertarão a tromba com um cordel de maneira que lhe fique a ponta da língua de fora, e pondo-a a cozer em uma tigela nova, lhe deitarão toucinho em dados, pimenta inteira e algum gengibre; como estiver cozida, lhe tirarão o queixo de baixo; e quando se quiser por no prato, lhe abrirão o de cima com uma faca junto aos miolos, para que lhe entre dentro o vinagre e pimenta pisada, que também se há de deitar por cima de toda a cabeça, deitando-se primeiro o vinagre, para que fique a pimenta pegada; desse modo se mandará à mesa, com salsa em rama por cima.


Quem tiver coragem de fazer esta receita, por favor, tire uma foto e me mande....

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Erva Canta e a Bíblia Envenenada

A Erva Canta (The Grass is Singing - Doris Lessing - 1950) e A Bíblia Envenenada (The Poisonwood Bible - Barbara Kingsolver -1998) - Dois excelentes livros escritos por mulheres, em épocas diferentes, embora as tramas se desenrolem mais ou menos na mesma época, sobre a dificuldade de adaptação de outras mulheres às rudes condições de vida na África.

Caminhada Nórdica



Hoje experimentei fazer uma caminhada com bastões, que peguei emprestados com o meu amigo Diogo. Tenho a certeza que a minha técnica não foi das melhores, porque resolvi esquecer as lições e usar o instinto, mas mesmo assim notei que a minha postura ficou melhor, e suei horrores, coisa que normalmente não me acontece em caminhadas no plano. Resumindo: realmente achei que é um excelente exercício. Para quem quiser saber mais, saiu uma matéria no Deutsche Welle em português no link:
Em inglês existem milhares de sites, filmes no youtube, etc.
Um adepto célebre deste tipo de caminhada é o Paulo Coelho.

domingo, 6 de setembro de 2009

Mudança

Você já mudou alguma coisa na sua vida por escolha consciente? Então sabe como é difícil. Sabe também que é possível, e a recompensa vem a longo prazo, muitas vezes sem aplausos nem reconhecimento. Descobri no perfil do meu primo Tiago um site que congrega pessoas que se ajudam mutuamente a mudar alguma coisa nas suas vidas: http://www.powerofchange.net/
Sem deixar de reverenciar a experiência, é sempre bom estar atento ao que os mais novos têm a dizer. Obrigada Tiago!

Risoto de Mirtilos

INGREDIENTES:

Arroz Carnaroli ou Arborio (1 copo e meio)
1 cebola
2 dentes de alho
1 cx (170g) de mirtilos (ou blueberries ou bleuets):
3 copos de água ou caldo de galinha
1 garrafa de vinho tinto
sal, uma pitada de tomilho, salsa, cebolinha verde
1 pedaço (100g) de queijo azul (gorgonzola ou roquefort)

PREPARAÇÃO


Refogue o alho e a cebola em manteiga e/ou azeite, numa panela antiaderente; quando a cebola estiver macia, junte os mirtilos e o tomilho, e continue refogando por mais alguns minutos. Junte o vinho tinto (cerca de 2 colheres de sopa) e deixe reduzir.

Retire os mirtilos da panela, junte o arroz e refogue mais um pouco (se for preciso junte mais um fio de azeite).


Junte a água ou caldo de galinha, corrija o sal, deixe ferver, tampe a panela e diminua o fogo.


Quando o arroz estiver cozido, junte os mirtilos, o queijo picado e a cebolinha verde e misture ligeiramente.
Sirva com carne vermelha e o resto do vinho tinto, se não tiver tomado todo enquanto preparava o arroz.


Veja mais informações sobre mirtilos em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vaccinium_myrtillusium_myrtillus

sábado, 5 de setembro de 2009

ODE AO TOMATE

Pablo Neruda escreveu em suas Odes Elementares:

(...) enche as saladas do Chile, casa-se alegramente com a branca cebola, e para o celebrar deita-se-lhe o azeite, filho natural da oliveira, sobre os hemisférios entreabertos, adiciona a pimenta a sua fragância, o sal o seu magnetismo: são os esponsais do dia, a salsa embandeira-se, as migas fervem ruidosamente, o assado bate à porta com o seu aroma, está na hora!

O texto integral (em espanhol) está em: http://oldpoetry.com/opoem/97399-Pablo-Neruda-Oda-al-Tomate

O tomate é alvo de muitos preconceitos, até hoje todos desmentidos pela ciência: as sementes causam pedras nos rins, dá gota, é venenoso, cancerígeno, sei lá mais o quê. Tudo mentira! Depois eu volto a este assunto, hoje só vou dar a receita de molho de tomate do Celidônio, que li há muitos anos no JB e uso até hoje:

MOLHO DE TOMATE DO CELIDÔNIO:
4 tomates maduros
1 cebola picada grosseiramente
2 dentes de alho picadinhos
azeite, sal, salsa e cebolinha
Retire a pele dos tomates com água fervendo, pique-os grosseiramente, sem retirar as sementes. Numa panela, junte todos os ingredientes, regando tudo com um fio generoso de azeite. Leve ao fogo pelo tempo necessário para o uso que for dar a esse molho: pode ser quase cru, ou cozido até desfazer todos os ingredientes. Use imediatamente ou congele, tanto faz, fica delicioso e saudável de qualquer maneira.

Guillaume Apollinaire


Um dos mais importantes escritores franceses do início do séc. XX, morreu de gripe espanhola, enfraquecido por um ferimento de guerra, dias antes do fim da I Guerra Mundial. Na época os médicos também recomendavam medidas de higiene e isolamento dos doentes.
Será que a gripe suína ainda vai levar muita gente?

Querida Salsinha

Sempre me admirou o ódio que o Veríssimo tem pela salsinha, que ele revelou numa crônica do livro "A Mesa Voadora":
http://ironia-fina.blogspot.com/2008/04/salsinha-luis-fernando-verssimo.html
Eu sempre gostei de enfeitar a comida com salsinha picada, acho que além de saborosa ela deixa a comida com cara de ter sido feita com capricho. Afinal quem fez deu-se ao trabalho de comprar, lavar e picar a salsinha.
Recentemente saiu uma reportagem no Globo Reporter sobre o valor dos temperos, e eis que surgiu o valor da salsinha: entre outras coisas é bom para a circulação e, sim, é bom consumi-la um pouquinho todos os dias: http://g1.globo.com/globoreporter/0,,MUL1021377-16619,00-SALSA+PODE+COMBATER+AS+DOENCAS+DO+CORACAO.html.
Senti-me vingada da crônica do Veríssimo!

Arroz de Rabada

Para começar, vou dar a receita do Risotto de Rabada, re-inventado da receita do Joaquina da Cobal-Humaitá: http://www.joaquinabar.com.br/

Ingredientes:
1 boa sobra de rabada com agrião
1 bom molho de tomate, pouco cozido e pedaçudo
Arroz
Cebola
Alho

Limpe a rabada, retirando toda a gordura e os ossos. Pique a carne sem desfiar. Corte a batata (pouca) em cubinhos e o agrião em pedacinhos pequenos.

Cozinhe o arroz à brasileira: refogue o alho e a cebola, junte o arroz lavado e frite, junte a água aos poucos. Quando o arroz estiver quase pronto, vá juntando um pouco do molho da rabada. Quando o arroz estiver cozido, junte o resto da rabada. Acrescente molho de tomate até ficar na consistência certa de um bom risoto.

Comecei o meu Blog

Hoje, depois de fazer um arroz de rabada, tive a ideia de fazer este blog, para guardar receitas, dicas de filmes, livros, passeios, como um álbum de recortes. A quem tiver a paciencia de ler e comentar, muito obrigada.