quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Eu, gato


Devo ter um senso de humor seriamente distorcido, porque recentemente chorei de rir lendo as desventuras de um gatinho japonês sem nome, narradas pelo próprio gato.... insólito.
Às vezes sinto tanta falta de um gatinho, que é quase uma dor física. Tenho muitas saudades do Bismarck, do Frederico, do Edmundo, do Artaxerxes, do Danilo, do Radamés, do Sardinha, da Pavorinha, para nomear só alguns que foram importantes na minha vida. Eu achava que era a única pessoa que gostava do cheiro dos gatos, mas não: é até um gosto muito comum, quase um clichê. Parece que no Japão até se vende um spray para ambientes com cheiro de cabeça de gato.
Isso me leva a pensar como todas as pessoas no fundo têm as mesmas necessidades e anseiam pelas mesmas coisas. É de aquecer o coração ver como as pessoas miseráveis que moram nas ruas do Rio tratam bem os seus animais de estimação, normalmente cães. O prazer de ser alvo do amor de um cãozinho é maior do que as outras carências dessas pessoas. Cães são barulhentos, palhaços, amigos, babões. Acho que essas pessoas não têm gatos porque é mais difícil mantê-los perto de si nas ruas. Eles são mais independentes e acabam se afastando e voltando a ser selvagens, ou se acomodando em algum lugar mais protegido do que a rua.
Quando moram em ambientes onde se sentem seguros e confiantes, gatos são companheiros silenciosos e afáveis, gostam de atenção, que as pessoas se ocupem deles, os mimem e adorem. Os seus olhos grandes e inteligentes fixam-se nos nossos com uma intensidade quase hipnótica. As proporções das carinhas dos gatos, a vivacidade das orelhas em pé, as brincadeiras de filhote mesmo quando o gato já é velho, fazem deles eternas crianças aos nossos olhos de adultos cansados.

Eu sou um gato (1904) é um romance satírico de Natsume Soseki, importante escritor japonês que até já teve o seu retrato estampado nas notas de 1000 ienes. É fácil baixá-lo em tradução inglesa na internet.

Nota de 1000 ienes de 1984 com a efígie de Natsume Soseki