domingo, 8 de novembro de 2020

O mundo é branco



Eu sempre atribuí cores a números, letras e sons. Para mim, número dois é vermelho. O som do A é preto. Os sabores para mim têm as cores dos alimentos. Acho que todos temos um pouco dessa ligação entre os sentidos. Falei neste fenômeno porque recentemente passei por um período de anosmia, ou perda do olfato, que me fez lembrar dessa relação entre os sentidos. De repente uma dimensão do mundo ficou totalmente branca para mim. Não foi uma experiência totalmente negativa, foi mais estranha do que horrível. Os alimentos não tinham cheiro de nada, mas tinham sabor, então comer era sempre uma surpresa, em geral agradável. Foram poucos dias, o olfato voltou gradativamente, começando pelos produtos naturais, como a comida, e ainda permanece enfraquecido, quase três meses depois, para produtos químicos, como água sanitária.
Sei que este post não é dos mais interessantes, mas deixo aqui registrada mais uma das minhas impressões da pandemia de COVID-19. A anosmia é um dos sintomas mais frequentes dessa doença.
.............................................................................
"A sinestesia é uma condição neurológica do cérebro que interpreta de diferentes formas os sinais percebidos pelo nosso sistema sensorial. É uma confusão neurológica que provoca a percepção de vários sentidos de uma só vez. Essa condição não é considerada uma doença mental, e sim uma forma diferente que o cérebro tem de interpretar os sinais. Uma em cada duas mil pessoas têm sinestesia, e essas pessoas podem ver sons, sentir cores ou o paladar das formas."
(MORAES, Paula Louredo. "Sinestesia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/oscincosentidos/sinestesia.htm. Acesso em 22 de setembro de 2020.)



domingo, 23 de agosto de 2020

Comfort Food

Designed by Freepik

"Comfort food" é o termo em inglês que quer dizer alguma coisa como comida reconfortante. Cada pessoa tem a sua, que normalmente vem da infância. Na Bíblia há um trecho que diz: "conforte-me com maçãs, pois desfaleço de amor". 

Nós, humanos, gostamos de nos confortar uns aos outros com comida. Não sei se entre animais há algum comportamento semelhante. Gatos gostam de trazer animais mortos para os seus donos, mas acredito que eles sabem que nós não gostamos de comer baratas e camundongos. 

Doces, especialmente chocolate, são reconfortantes para muita gente. Tanto para consumir como para oferecermos uns aos aos outros. Uma das minhas comidas reconfortantes preferidas é o Potaje, uma sopa espanhola de grão de bico, que a minha mãe fazia no inverno. Segue a receita: 

POTAJE 
• 1/2 kg de grão de bico demolhado e cozido em água e sal 
• 4 dentes de alho 
• 4 cebolas médias cortadas em meia-lua 
• Azeite 
• Colorau + páprica doce ou picante 
• Folhas de louro 
• Sal e pimenta do reino 
• Salsa e cebolinha verde picadas 
• (Opcional) 1 tomate sem pele picado ou 2 colheres de sopa de polpa ou molho de tomate
Refogar a cebola com o louro no azeite; quando começar a amolecer, juntar o alho, tomate e o colorau e/ou páprica. Juntar o grão de bico com a água do cozimento e deixar ferver. Corrigir o sal, pimenta e juntar mais água, se necessário. Quando estiver fervendo novamente, juntar salsa e cebolinha picadas. Pode levar outros legumes, eu gosto de pôr batatas, cenoura e repolho.
  
O grão de bico, além de ser para muitos uma comida reconfortante, tem muitas propriedades interessantes, como por exemplo: 
1) é um dos melhores alimentos para baixar o colesterol 
2) como outras leguminosas, é muito rico em proteínas 
3) contém um aminoácido conhecido como triptofeno, que, em grande quantidade, produz serotonina, substância responsável pela sensação de bem-estar 
 4) é muito delicioso

domingo, 26 de julho de 2020

As máscaras da humildade

Masquerade - René Magritte

Parece que ultimamente o cúmulo da ignorância é não usar máscara. Os mais humildes desistiram, ou nem tentaram, pela sua visão fatalista das coisas, acham que vão pegar o COVID-19 de qualquer forma, então de que adianta tentar se proteger? Muitas outras pessoas, não tão humildes assim, não gostam do incômodo da máscara no rosto, e arranjam as desculpas mais variadas para não usar o acessório. Quem procura usar o bom senso e obedecer às autoridades, nem que seja para não se aborrecer à toa, acaba ficando menos protegido do que deveria, em meio a tanta desobediência e fanfarronice.
Sempre me vem à cabeça o pequeno poema de Camões,  Ao desconcerto do Mundo:

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.
Luís de Camões

sábado, 27 de junho de 2020

Em Casa

Fonte: saulsteinbergfoundation.org

Depois de meses quase sem sair de casa, tenho observado efeitos inesperados da pandemia na minha rotina. Alguns até foram positivos, mas elaborar esta lista encheu-me de tristeza.

1) leio menos literatura
2) leio mais jornais
3) faço ginástica (Pilates e HIFT) quase todos os dias
4) vejo poucos filmes (la réalité dépasse la fiction)
5) como comida caseira (feita por mim e pelo Sr. Carlos)
6) lavo muita roupa (cada louco com as suas manias)
7) conserto objetos com super-cola (ainda vou ganhar dinheiro com isso!)
8) ligo para a família e amigos
9) choro com frequência
10) emagreci quatro quilos (até agora)
11) trabalho menos do que gostaria (embora algumas sessões sejam estranhamente produtivas)
12) quase não visito museus virtuais (o Hermitage decepcionou-me. Nunca consegui visitar)
13) descobri que enguias são peixes interessantíssimos. Até comprei um livro narrado por uma
14) escrevo mais no blog

E vocês? Como o confinamento impactou suas vidas?

sábado, 23 de maio de 2020

Flush e outros bichos

A morte do gato Murr - gravura de 1864 de Fernando II de Portugal (fonte: wikipedia)
Às vezes os grandes escritores disfarçam-se de animais, para lançar um olhar perplexo sobre os outros seres humanos. Lembrei-me de alguns livros escritos assim, narrados por cães e gatos, sabendo que há centenas, ou até milhares, de outros. Esta é só uma pequena seleção, que recomendo vivamente que leiam, são todos pequenas jóias:

Flush - este foi o único livro com que Virgínia Woolf ganhou algum dinheiro, que aproveitou para dar um carro à sua irmã Vanessa. É a biografia da poeta Elizabeth Browning narrada do ponto de vista do seu simpático Cocker Spaniel, Flush.

Mürr - é a obra-prima inacabada do escritor alemão E.T.A. Hoffmann. É parte dos "Contos Fantásticos de Hoffman", que deram origem a uma linda ópera, uma das mais populares de todas. O gato Murr gatafunhou as suas memórias em folhas arrancadas da biografia do seu companheiro humano, o Mestre de Capela Kreisler. As considerações do gato Murr ficaram para sempre misturadas com as do Sr. Kreisler. O gato Murr tem-se em grande consideração, é lindo e inteligente, e despreza o seu mestre e as suas complicações amorosas e devaneios artísticos. 

Mrs.Chippy - a divertida narrativa da expedição do Endurance feita pelo gato de estimação do carpinteiro de bordo, na época figuras importantíssimas em qualquer navio (carpinteiros e gatos). Eu escrevi sobre este livro aqui no blog em setembro de 2009.

Eu sou um Gato - um clássico da literatura japonesa, que demonstra que a ideia de escrever sobre os humanos do ponto de vista dos animais surgiu em várias culturas, e gerou várias obras primas. Eu já escrevi sobre "Eu sou um Gato" em novembro de 2019.

Ao escrever pela ótica dos animais os autores procuraram despir-se dos próprios preconceitos para tentar entender e revelar um pouco mais sobre as pessoas. E conseguiram fazê-lo de forma muito leve, esses quatro livros são extremamente divertidos.

Há muitos outros exemplos, claro. Encontrei a lista a seguir na web:
https://www.goodreads.com/list/show/12395.Best_Books_Written_from_an_Animal_s_POV


terça-feira, 28 de abril de 2020

Festas macabras e ursinhos fofos

Cabeças em estacas - fonte: wikipedia 

Quando acabaram os tempos do Terror, depois da Revolução Francesa, alguns parentes de pessoas que haviam sido guilhotinadas passaram a organizar os chamados "Bals des Victimes". Eram bailes em que as pessoas se fantasiavam de guilhotinados, usando cabelos curtos, xales e gargantilhas vermelhas, entre outros adereços macabros. Há historiadores que não acreditam na veracidade desses bailes, dizem que foi uma invenção posterior: Fake News do século XIX. Lembrei-me desses bailes ao ler que andam organizando festas clandestinas durante a pandemia, e em algumas até distribuem máscaras cirúrgicas engraçadinhas aos convidados. Como disse alguém, o que aprendemos com a história é que nada se aprende com a história.


Um destes dias recebi uma figura de um ursinho fofo fazendo um coração com as patas/mãos. Achei a coisa mais piegas do mundo, e fiz uma anotação mental de nunca mandar uma figura dessas para ninguém. Fazer "figura de urso", em Portugal, quer dizer passar vergonha. Dias depois, ao receber notícias tristes, para as quais não havia resposta possível, o que eu fiz? Mandei o ursinho. Depois disso já mandei a ilustração do ursinho para várias pessoas. Neste mundo de cabeça para baixo precisamos de mais ursinhos fofos e de menos arrogância intelectual. Espero que quando esta pandemia passar, os ursinhos fofos permaneçam entre nós e se espalhem, trazendo mais cordialidade e unindo as pessoas.


Foto de Ivan Radic “Lonely teddy bear looking through the window”

Shot on Nikon D610 and Nikon 85mm F1.4G

segunda-feira, 20 de abril de 2020

O que não ler durante a quarentena

O Bibliotecário - Giuseppe Arcimboldo (1566)

Tenho lido muitas sugestões sobre o que fazer durante estes tempos de reclusão. Ler é uma solução óbvia. Pessoalmente não tenho tido muitos problemas: entre tentar trabalhar, cuidar da casa e da família, e o bombardeio de notícias e análises sobre a própria pandemia, quase não tem sobrado tempo para a literatura. Antes das coisas se agravarem, eu tinha começado a reler um livro que para mim é o clássico dos clássicos, "Crime e Castigo", mas acabei largando porque é muito sombrio e ia acabar me deixando mais triste do que já estou, se é que isso é possível. Então, para prestar um serviço aos meus leitores, decidi elaborar uma lista de livros para não ler agora. São livros excelentes, não me entendam mal, recomendo que os leiam algum dia.
  1. Crime e castigo (Dostoievski) - a história de um rapaz que mata uma velha usurária para hipoteticamente poder estudar e trabalhar em prol da humanidade, obviamente não é uma leitura apropriada para estes tempos da pandemia que está dizimando os idosos.
  2. A Montanha Mágica (Thomas Mann) - trata de um jovem que vai visitar um primo em um sanatório para tuberculosos e acaba adiando a sua volta indefinidamente... não preciso explicar mais, não é?
  3. Os Buddenbrooks (Thomas Mann) - A saga de uma família alemã, atravessando várias gerações. Contém uma descrição terrível de uma morte por pneumonia. Não, não, não.
  4. Querida Doença (Patricia Highsmith) - o título já diz tudo... a doença é mental, mas mesmo assim não recomendo que ninguém leia esse livro agora.
  5. Viagem ao Fim da Noite (Céline) - a obra prima de um dos grandes escritores franceses do século XX é negativa demais para estes tempos de pandemia. Céline foi um personagem controverso, por suas posições antissemitas e ligação ambígua com o nazismo. Curiosamente, o seu trabalho de conclusão do curso de Medicina foi sobre o médico húngaro que descobriu que lavar as mãos era a melhor forma de evitar a “febre puerperal”
  6. Moby Dick (Melville) - a história do baleeiro Pequod e do capitão Ahab, um louco obcecado pela vingança que leva a sua tripulação à destruição e morte, não é uma leitura leve para distrair durante uma pandemia.
  7. A Grama está Cantando (Doris Lessing) - o primeiro romance dessa grande escritora, que chegou a ganhar um prêmio Nobel, trata de sonhos não realizados, depressão, racismo e violência. Motivos suficientes para não ler esse livro agora.
  8. Os Noivos (Manzoni) - um dos clássicos da literatura italiana, foi bastante lembrado recentemente na Itália por conter a descrição de uma peste que atingiu Milão em 1630. É um romance empolgante, fácil de devorar, mas talvez nãos seja a hora de ler histórias de peste e clausura.


domingo, 5 de abril de 2020

Querida Filipa (carta para mim mesma)

(Desenho de Saul Steinberg, 1967)

Rio de Janeiro, 5 de Abril de 2020

Querida Filipa de amanhã:

Espero que releias este texto daqui a alguns anos com saúde e cercada por toda a tua família.  A atual pandemia faz coisas estranhas conosco, e esta carta é uma prova disso. Espero que tudo passe mais depressa do que se está prevendo e que te possas lembrar com orgulho das coisas que fizeste durante este período sombrio.

Chegando à janela, já em tempos de pandemia, viste dois pombos mortos, atropelados, no meio da rua. Os coitadinhos deviam estar com fome, as pessoas que os alimentavam pararam de sair de casa, e com a rua vazia eles aventuraram-se demais e acabaram atropelados. Viste também um morcego morto na calçada (será que a morte dele tinha algo a ver com o vírus?), e um gatinho preto com os pelos todos arrepiados, assustado e com fome. Os animais são nossas sentinelas e avisam-nos das tragédias iminentes, é só prestar atenção.

Espero que não tenhas que te arrepender de decisões tomadas durante estes tempos de incerteza. São decisões difíceis para todos. Lembra-te que tentaste fazer tudo de maneira ponderada, e que ninguém podia prever o desfecho de tudo. Procuraste ser uma boa pessoa, generosa com pessoas desconhecidas, e também com as mais difíceis: as mais próximas de ti.

Perdoa-te e segue em frente.
Filipa de 2020

P.S.: Uns dias depois de escrever esta carta, vi um filhote de gambá morto, deitado de costas, muito direitinho, como se estivesse preparado para o funeral.
P.P.S.: Eu não saía de casa, a não ser por extrema necessidade. Avistei esses animais da janela, e nas poucas vezes em que precisei de sair para acudir a uma pessoa de idade,

segunda-feira, 23 de março de 2020

É o Medo, meu Pequeno Caçador, é o Medo

23/03/2020
Saul Steinberg, 1960

Bem leve, pela selva, corre essa sombra muito atenta,
E o suspiro se espalha e se alastra em toda parte,
E o suor em sua testa, pois ele passou agora mesmo...
É o medo, ó Pequeno Caçador, é o medo!
Rudyard Kipling, em tradução de Alexandre Barbosa da Costa

C’est la peur, mon petit chasseur, c’est la peur... meu pai me dizia isso, assim, em francês mesmo, quando percebia que eu estava apavorada com alguma coisa. Era uma forma de ele me dizer que entendia como eu estava me sentindo, e isso era de certa forma tranquilizador. Era como um código entre nós dois, mostrava que ele entendia o que eu estava passando, mesmo não podendo fazer nada quanto à causa desse medo.
Daqui a alguns anos, se sobrevivermos, a nossa vida vai ser dividida em antes e depois da Covid19. Ainda não sabemos o impacto que esta doença vai ter nas nossas vidas. Vamos ficar doentes? Morrer? Perder algum parente ou amigo? Sobreviver, mas perder o ganha-pão?
A pandemia tem nos mostrado o pior e o melhor dos seres humanos. Compras compulsivas, corrida às farmácias, boataria, contrastam com atitudes bonitas, iniciativas solidárias, as pessoas se organizando para ajudar umas às outras.
Não se sabe de onde veio a ideia de que poderia faltar papel higiênico, mas no mundo inteiro houve corrida aos supermercados para comprar pacotes e mais pacotes, até no Brasil, mesmo antes da epidemia nos atingir em cheio. A rebelião dos velhinhos, que se recusam a ficar em casa, também se repete em vários países. Usar máscaras cirúrgicas indiscriminadamente, sem nenhuma real utilidade, parece ser outro padrão de comportamento. Mais uma vez, nesta crise, lembro-me das palavras do meu pai, quando acontecia alguma coisa que eu achava inusitada: “os seres humanos não mudam nada”. Espero que ele estivesse enganado, e que desta vez nós tenhamos a capacidade de aprender alguma coisa.

P.S. (de 23/05/2020): depois de eu ter publicado este texto, as máscaras revelaram-se úteis, e tornaram-se até obrigatórias em lugares públicos. Ainda não faltou papel higiênico.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Confissões de um Farrapo Humano


Farrapo Humano é o nome em português do filme The Lost Weekend, de 1945. Trata de um escritor que se torna um alcoólatra, e que julga não conseguir escrever se não estiver sob o efeito de álcool.
Há alguns anos eu andei bebendo descontroladamente e tive que repensar a minha relação com a bebida. Tomava umas cervejinhas todos os dias, e cada dia precisava beber uma quantidade maior para ficar satisfeita. No calor do Rio de Janeiro, uma cervejinha gelada vai sempre muito bem. Duas, melhor ainda. Três, então...

Aí algumas coisas abriram os meus olhos. Uma delas foi o teste AUDIT (Teste de Identificação de Desordens Devido ao Uso de Álcool ) da Organização Mundial da Saúde. A última pergunta do teste é se alguém já mostrou preocupação com você por causa de bebida ou lhe disse para parar de beber. Acontece que sim, já. Dentre todas as perguntas, essa foi a que mais me impactou, não sei por quê, pois em geral não me preocupo muito com o que as outras pessoas pensam de mim.

A outra coisa que aconteceu comigo foram frequentes viagens com um cliente da empresa em que eu trabalhava na época, que era ex-alcoólatra. Eu já não costumava beber muito nas viagens a trabalho, mas na companhia dele passei a não beber nada, pois achava muita crueldade beber na frente de alguém que declaradamente tinha problemas com o álcool. Nessas viagens eu descobri que conseguia passar bastante tempo sem beber e sem sentir muita falta da bebida.

Depois veio a cerveja sem álcool. Eu já tinha provado umas versões mais antigas, e não tinha gostado. Mas a nova geração é bem mais palatável, principalmente se você não a tomar logo após ter bebido cerveja normal. Se você já está bebendo e prova a cerveja sem álcool, ela parece aguada, mas se tomar só dela, é saborosa e refrescante como a outra. E o efeito placebo é ótimo, às vezes eu até achava que estava ficando de "pilequinho". Não vou falar de marcas, mas as mais comuns são boas. É uma pena que os bares no Rio de Janeiro em geral não tenham cerveja sem álcool, pois é uma boa opção para quem é o "motorista da vez", ou por algum outro motivo não quer beber, embora goste de cerveja.

Em geral os profissionais de saúde não a recomendam, mas já encontrei pelo menos uma entrevista de uma nutricionista que aprova a cerveja sem álcool, na Revista Saúde. A mim a cerveja sem álcool fez muito bem: me ajudou a ultrapassar essa fase da minha vida sem sofrer muito e sem ter que cortar todo o prazer de tomar uma cervejinha com a família ou amigos. Só um alerta: ela é rica em carboidratos, tem glúten e engorda! Por isso, use com moderação.

Passados vários anos da fase da cerveja em excesso e da sem álcool, passei a beber muito menos e somente nos fins de semana, até ter o diagnóstico de diabetes, e ser proibida de beber qualquer tipo de cerveja. "Se for beber alguma coisa, beba vinho", disse o meu médico. Eu gosto de doces e de cerveja, ainda mais com essa onda de cervejas artesanais, então para mim foi como levar uma machadada na cabeça. Chorei, esperneei, e segui em frente: mudei os hábitos alimentares; continuei fazendo exercício (já fazia antes); perdi 10 quilos. Livrei-me do remédio da diabetes, e até hoje quase nunca como doces nem ponho mais de um carboidrato no prato. Só muito raramente tomo uma cervejinha, em ocasiões especiais com amigos.

Recentemente fiz novamente o teste AUDIT e, para espanto meu, ainda acusou problemas com álcool. O vinho que eu tomo nos fins de semana, segundo o resultado do teste, ainda é motivo de preocupação. Com esta constatação, espero  ainda diminuir  o consumo de bebidas alcoólicas até níveis aceitáveis.