quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Confissões de um Farrapo Humano


Farrapo Humano é o nome em português do filme The Lost Weekend, de 1945. Trata de um escritor que se torna um alcoólatra, e que julga não conseguir escrever se não estiver sob o efeito de álcool.
Há alguns anos eu andei bebendo descontroladamente e tive que repensar a minha relação com a bebida. Tomava umas cervejinhas todos os dias, e cada dia precisava beber uma quantidade maior para ficar satisfeita. No calor do Rio de Janeiro, uma cervejinha gelada vai sempre muito bem. Duas, melhor ainda. Três, então...

Aí algumas coisas abriram os meus olhos. Uma delas foi o teste AUDIT (Teste de Identificação de Desordens Devido ao Uso de Álcool ) da Organização Mundial da Saúde. A última pergunta do teste é se alguém já mostrou preocupação com você por causa de bebida ou lhe disse para parar de beber. Acontece que sim, já. Dentre todas as perguntas, essa foi a que mais me impactou, não sei por quê, pois em geral não me preocupo muito com o que as outras pessoas pensam de mim.

A outra coisa que aconteceu comigo foram frequentes viagens com um cliente da empresa em que eu trabalhava na época, que era ex-alcoólatra. Eu já não costumava beber muito nas viagens a trabalho, mas na companhia dele passei a não beber nada, pois achava muita crueldade beber na frente de alguém que declaradamente tinha problemas com o álcool. Nessas viagens eu descobri que conseguia passar bastante tempo sem beber e sem sentir muita falta da bebida.

Depois veio a cerveja sem álcool. Eu já tinha provado umas versões mais antigas, e não tinha gostado. Mas a nova geração é bem mais palatável, principalmente se você não a tomar logo após ter bebido cerveja normal. Se você já está bebendo e prova a cerveja sem álcool, ela parece aguada, mas se tomar só dela, é saborosa e refrescante como a outra. E o efeito placebo é ótimo, às vezes eu até achava que estava ficando de "pilequinho". Não vou falar de marcas, mas as mais comuns são boas. É uma pena que os bares no Rio de Janeiro em geral não tenham cerveja sem álcool, pois é uma boa opção para quem é o "motorista da vez", ou por algum outro motivo não quer beber, embora goste de cerveja.

Em geral os profissionais de saúde não a recomendam, mas já encontrei pelo menos uma entrevista de uma nutricionista que aprova a cerveja sem álcool, na Revista Saúde. A mim a cerveja sem álcool fez muito bem: me ajudou a ultrapassar essa fase da minha vida sem sofrer muito e sem ter que cortar todo o prazer de tomar uma cervejinha com a família ou amigos. Só um alerta: ela é rica em carboidratos, tem glúten e engorda! Por isso, use com moderação.

Passados vários anos da fase da cerveja em excesso e da sem álcool, passei a beber muito menos e somente nos fins de semana, até ter o diagnóstico de diabetes, e ser proibida de beber qualquer tipo de cerveja. "Se for beber alguma coisa, beba vinho", disse o meu médico. Eu gosto de doces e de cerveja, ainda mais com essa onda de cervejas artesanais, então para mim foi como levar uma machadada na cabeça. Chorei, esperneei, e segui em frente: mudei os hábitos alimentares; continuei fazendo exercício (já fazia antes); perdi 10 quilos. Livrei-me do remédio da diabetes, e até hoje quase nunca como doces nem ponho mais de um carboidrato no prato. Só muito raramente tomo uma cervejinha, em ocasiões especiais com amigos.

Recentemente fiz novamente o teste AUDIT e, para espanto meu, ainda acusou problemas com álcool. O vinho que eu tomo nos fins de semana, segundo o resultado do teste, ainda é motivo de preocupação. Com esta constatação, espero  ainda diminuir  o consumo de bebidas alcoólicas até níveis aceitáveis.