quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Vai bugiar!

Farol do Bugio - foto por catpochi no Panoramio

Quando éramos pequenos e arreliávamos demasiado a nossa mãe, às vezes ela mandáva-nos "bugiar". Li em algum lugar (Dr. Google, I presume) que bugio é um tipo de macaco e que essa expressão é mais ou menos equivalente a mandar alguém pentear macacos, e que já era usada por Gil Vicente no século XVI: "Vai, vai, Joana, bugiar, não andes com o alpavardo". Ignorante como eu era (e ainda sou), imaginava que o que e minha mãe queria era mandar-nos fazer alguma tarefa no para mim longínquo farol do Bugio, que avistávamos de vez em quando na foz do rio Tejo. Como o farol era para mim tão distante e inatingível, essa tarefa iria demorar muito, e talvez nos perdêssemos pelo caminho, deixando assim de amofinar a paciência da nossa mãe por um bom tempo.
Esse aparentemente pequeno farol fica no único banco de areia que fica sempre acima da linha das marés na foz do Tejo, dentro de uma fortaleza de contorno circular, parecendo uma vela no seu castiçal, daí o nome Bugio (de bougie, vela em francês). Inicialmente foi construído sobre fundações de madeira sustentadas por pedras, e foi destruído e reconstruído várias vezes ao longo do tempo, uma delas por ocasião do grande terremoto de 1755. Foi usado durante séculos para defesa de Lisboa, e hoje em dia ainda tem a função de auxílio à navegação.
Por que resolvi escrever isto? Porque de repente lembrei-me desse farol e dessa expressão, tão íntimos para mim. Não sei se foi ao avistar o farol quando fui a Lisboa, ou se foi apenas na minha imaginação, mas foi uma impressão forte e agradável, como uma das recordações de Agatha Christie, que me veio de repente e não saiu mais da minha cabeça, e por isso resolvi depositá-la aqui.

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